Pesquisar neste blog

domingo, 6 de novembro de 2011

Versos de Zé Adalberto, grande poeta de Itapetim, sobrinho de Biu Doido de São José do Egito.


RETIREI SEU RETRATO DA CARTEIRA
SEM TIRAR SEU AMOR DO CORAÇÃO
(Zé Adalberto)
.
Seu retrato foi todo incinerado
Mas até na fumaça deu pra vê-la
Não há nada que faça eu esquecê-la

Eu nem sei se por ela sou lembrado
Meu desejo está contaminado
Pelo vírus da sua sedução
Junta médica não faz intervenção
Se souber que a doença é roedeira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
.
Esse meu coração só pensa nela
Apesar de bater no meu reduto
120 batidas por minuto
São as 20 por mim, e as 100 por ela
Eu com raiva rasguei a foto dela
Mas amor não se rasga com a mão
Se vontade rasgasse ingratidão
Eu só tinha deixado a pedaceira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
.
Seu veículo de amor ainda cabe
Na garagem do peito que era seu,
O chassi do seu corpo está no meu
Se eu tentar alterá-lo o mundo sabe
Não existe paixão que não se acabe
Mas amor não possui limitação
Vai além das fronteiras da razão
E o que eu sinto por ela é sem fronteira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
.
Da carteira eu tratei de dar um jeito
De tirar sua foto de olhos vivos
Mas não pude apagar os negativos
Que ficaram gravados no meu peito
Junto à lei nosso caso foi desfeito
A igreja anulou nossa união
Mas do peito não tive condição
De tirar esse amor por mais que eu queira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.

Outro mote:


Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Muitas vezes, sozinho, eu me pergunto:
Pra que tanta riqueza, se depois
Que o caixão encostar e couber dois,
O amigo melhor não quer ir junto?
Pra que cara fragrância, se o defunto
Não exige perfume da “natura”?
Mesmo a alma é cheirosa quando é pura,
Mas o cheiro do corpo ainda enjoa.
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que casa cercada por muralha,
Se a cova é cercada pelo pranto?
Se pra Deus todos têm do mesmo tanto,
Tanto faz a fortuna ou a migalha.
Pra que roupa de marca se a mortalha
Não requer estilista na costura,
Se o cadáver que a veste não procura
Nem saber se a costura ficou boa?
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu me esconder detrás de um pão,
Se a miséria não bate em minha porta?
Pra que eu me cansar regando horta,
Se amanhã ou depois já é verão?
Pra que eu confiar no coração,
Sem saber quanto tempo a vida dura?
Se as feridas da alma não têm cura,
Quando é a ganância que as magoa?
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Não sou dono de ônibus nem de trem,
Mas enquanto eu puder me locomovo.
Pra que eu invejar um carro novo,
Se o transporte final nem rodas tem?
Nem me avisa dizendo quando vem,
Mas só anda na minha captura
E bem abaixo da sua cobertura,
Ele tem quatro asas, mas não voa.
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu toda hora dar balanço
No que eu tenho ou andar atrás de bingo?
Pra que tanta hora extra no domingo,
Se Deus fez esse dia pro descanso?
Pra que eu trabalhar feito um boi manso,
Se a chibata do dono me tortura?
Pra que eu reclamar de minha altura,
Se o que a mão não alcança, Deus me doa?
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu com dois olhos na barriga,
Se os da cara já são suficientes?
Pra que eu invejar os meus parentes,
Se eu já sei que o retorno é uma intriga?
A formiga que evita ser formiga
Cria asas, se torna tanajura,
Cresce a bunda demais, cria gordura,
Fica muito pesada e cai à toa.
Pra que tanta riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?



Fonte: itapetim-net

5 comentários:

  1. parabêns josé adalberto seus poêma são muito rico na cultura brasileira.
    deveria ser mais divugado.

    vânia ferreira

    ResponderExcluir
  2. Parabéns meu amigo, poemas belíssimos e muito rico, vou divulgar em meu face só assim eu distribuo riqueza, pois o que vale é o que importa, pois é esse tipo de riqueza que o povo brasileiro precisa, pois o que se aprende não se toma e nem se perde.

    ResponderExcluir
  3. Fantástico: O sertão é um mar de poesia e seus poetas são poemas perfeitos, almas que enaltecem nossa cultura. este é um exemplo do que há de melhor da nossa literatura.

    ResponderExcluir
  4. Você e um gênio poeta, Deus te abençoe grandemente!

    ResponderExcluir