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sábado, 21 de abril de 2012



Quando deixou de cantar, o poeta Pinto do Monteiro já estava com a idade bastante avançada. Interrogado insistentemente pelos fãs e apologistas da cantoria de viola porque havia deixado a profissão, Pinto respondeu através deste poema.


PORQUE DEIXEI DE CANTAR

Recebi mais de um poema
Fazendo interrogação
Por que eu da profissão
Mudei de rumo e sistema
Resolverei um problema
De não poder tolerar
Muita gente a perguntar
Ansiosa pra saber
Em verso vou responder
Por que deixei de cantar.

Deixei porque a idade
já está muito avançada
A lembrança está cansada
O som menos da metade
Perdi a facilidade
Que em moço possuía
Acabou-se a energia
Da máquina de fazer verso
Hoje eu vivo submerso
Num mar de melancolia.

Minha amiga e companheira
Eu embrulhei de molambo
Pego nela por um bambo
Para tirar-lhe a poeira
Hoje não tem mais quem queira
Ir num canto me escutar
Fazer verso e gaguejar
Topar no meio e no fim
Canto feio, pouco e ruim
Será melhor não cantar.

Não foi por uma pensão
Que o governo me deu
Por que o eu do meu eu
Não me dá mais produção
Cantor sem inspiração
Tem vontade e nada faz
Eu hoje sou um dos tais
Que ninguém quer assistir
Nem o povo quer ouvir
Nem eu também posso mais.

Ando gemendo e chorando
E vendo a hora cair
O povo de mim fugir
E a canalha mangando
E eu tremendo e tombando
Sem maleta e sem sacola
Hoje estou nesta bitola
Por não ter outro recurso
Carrego a bengala a pulso
Não posso andar com a viola.

Com a matéria abatida
Eu de muito longe venho
Com este espinhoso lenho
Tombando na minha vida
Tenho a lembrança esquecida
Uma rouquice ruim
A vida quase no fim
A cabeça meio tonta
Quem for moço tome conta
Cantar não é mais pra mim.


Mote: 
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

(Aldo Neves)

Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Cantam os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O cenário enfeitando a capoeira
Só o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar o que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

De manhã quando o sol enfeita a barra
Uma flor se desprende e cai do galho
Camponês recomeça o seu trabalho
Sem ouvir a cantiga da cigarra
À tardinha as gangarras fazem farra
Com o milho depois de pendoado
E a enchente parece um aleijado
Sem andar se arrastando pelo chão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Passa a brisa de leve o chão bafeja
Deixa a terra bastante perfumada
Bate a água na telha compassada
Como o sino tocando na igreja
Se transforma a paisagem sertaneja
Com o mato depois de enfolhado
Parecendo um quadro desenhado
Que Deus fez sem triscar nem com a mão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O trovão ribombando serra à baixo
Parecendo com um tiro numa guerra
Uma chuva bem leve molha a terra
Desce a água correndo prá um riacho
Uma jia cantando chama um macho
Como quem diz: Adeus, muito obrigado!
Um rosário de barro avermelhado
Forma um círculo enfeitando o cacimbão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

fonte: Bestafubana

TRANCA RUA
Poema de autoria de Amazan da Paraíba.



Mais do poeta popular, Leonardo Bastião


VELHO ATRÁS DE MULHER NOVA
FAZ É PERDER O CARTAZ
QUANDO ELAS “COME” O DINHEIRO
SABE O QUE É QUE ELAS “FAZ”?
É SAIR DIZENDO AS OUTRAS
QUE O CABRA NÃO “ARMA” MAIS.

“VÉI” SE METE COM MULHER
MAS O FOGO APAGA CEDO
NA HORA “H” ELE FALHA
ENVERGONHADO E COM MEDO
DAR MAIS DO QUE PROMETEU
PR’ELA GUARDAR O SEGREDO

VÉI PABULA PORQUE QUER
MAS EU SEI QUE VELHO É FRACO
QUANDO ELE COMEÇA A VER
CABELO BRANCO NO SACO
TÁ BEM “PERTIM” DA SUVELA
NÃO ENTRAR MAIS NO BURACO.


EU TAMBÉM PLANTEI SAUDADE
NUMA PEQUENA PANELA
SÓ DE QUINZE EM QUINZE DIAS
É QUE EU BOTAVA ÁGUA NELA
PR’ELA NÃO CRESCER DEMAIS
E MATAR QUEM CUIDAVA DELA

EU NÃO ADIVINHO A MORTE
PORQUE DEUS NÃO QUER ASSIM
MAS AS DOENÇAS QUE EU SINTO
E AS “DOR” QUE SE ARRANCHA EM MIM
DÁ PRA PERCEBER QUE A VIDA
TÁ MUITO PERTO DO FIM

NA MOCIDADE EU NÃO PUDE
VENCER OS PLANOS QUE FIZ
A VELHICE ACOMPANHOU
JÁ FEZ DE MIM O QUE QUIS
COM TANTA VELOCIDADE
QUE DEIXOU A MOCIDADE
NUMA DISTÂNCIA INFELIZ

QUEM JÁ PASSOU DOS SESSENTA
DO SEU FUTURO TEM MEDO
QUE O TEMPO ANDA MAIS VEXADO
PRA CHEGAR NO FIM MAIS CEDO
DEPOIS DO FIM É A MORTE
DEPOIS DA MORTE É SEGREDO

NO DIA QUE EU MORRER
A MINHA VIDA SE ENCERRA
VOU PRESTAR CONTA A JESUS
ÚNICO JUIZ QUE NÃO ERRA
E PAGAR PELOS PECADOS
QUE FIZ EM CIMA DA TERRA

fonte:bernardogarapa