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domingo, 6 de novembro de 2011

Esse poema, musicado em forma de toada de vaquejada, foi gravado pelo amigo Pedrinho Aboiador.

Fazendeiro Ingrato
(Paulo Robério)

Um vaqueiro já idoso
Que serviu tanto ao patrão
Foi dispensado porque
Não tinha mais condição
De trabalhar na fazenda
E recebeu como renda
Somente a ingratidão

O patrão disse pra ele:
Vou ter que lhe dispensar
Eu não posso mais manter
Vaqueiro sem trabalhar
Você foi bom no passado
Já hoje velho e cansado
Não pode mais campear

Eu tenho lá na cidade
Uma casinha fechada
Se quiser nela morar
Faço um preço camarada
Me responda urgentemente
Porque já tem pretendente
Pela casa interessada

Na cidade você pode
Arranjar algum trabalho
Catar lixo ou viver
De biscate e quebra-galho
Ou então tomar cachaça
Passando o dia na praça
Jogando dama e baralho

Depois de tudo que ouviu
Daquele patrão ingrato
Chorando o vaqueiro disse:
Doutor eu nasci no mato
Me acostumei com os bichos
E não vou viver nos lixos
Dividindo o pão com rato

De cachaça sempre fui
Um poderoso inimigo
Eu nunca bebi sozinho
Nunca farrei com amigo
O senhor deve saber
O que acabou de dizer
Não pode dizer comigo.

Derramei o meu suor
Trabalhando pro senhor
Seu gado todo zelei
Com carinho e com amor
Levei chifrada de touro
Que a ponta arrancava o couro
Mas eu nem sentia dor

Quantas vezes me arranhei
Por dentro dos matagais
Perseguindo marruá
Veloz e brabo demais
Fiz de tudo quanto pude
Hoje velho e sem saúde
O patrão não me quer mais

Levei centenas de coices
Dos cavalos que amansei
As quedas de burros xucros
Foram tantas que nem sei
Mas nenhuma me atingiu
Me doeu e me feriu
Como esta que levei

Vou deixar sua fazenda
Arreios e animais
Me despedir do seu gado
Dos cercados e currais
Eu garanto pro senhor
Que enquanto vivo for
Não piso aqui nunca mais

Eu só lhe peço uma coisa
Para o senhor se lembrar
O que hoje estou passando
O patrão pode passar
Viver num canto isolado
Rico, porém desprezado
Quando a velhice chegar.


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