Belo soneto de Rogaciano Leite, escrito de improviso numa mesa de bar no Recife, na véspera de Natal do ano de 1953. O tema: "Na noite santa em que nasceu Jesus", foi dado pelo folclorista Aleixo Leite Filho (Leci).
Esqueço-me das mágoas torturantes
De hora em hora, de instantes em instantes,
De instantes, em instantes, de hora em hora.
Vejo as visões que já não tenho agora,
Visões e outrora que já vão distante.
São fantasmas de amor extravagantes,
Extravagantes ilusões de outrora.
Bebo. E ninguém me culpe desse vício;
Se eu rolar, ou tombar no precipício,
Conduzirei, sozinho, a minha cruz.
Porém, jamais, embora frente à taça
Me esquecerei do amor, da luz, da graça,
Na noite santa em que nasceu Jesus.
Do livro, “Rogaciano Leite – do Cordel ao Erudito” do egipciense Paulo Cardoso, retiramos o poema-carta, feito de improviso por Rogaciano Leite, no qual o poeta faz jocosa cobrança de seus justos honorários por matérias publicadas em determinado jornal.
“São Paulo, 3 de janeiro
Meu amigo Alcides Lopes
Ponha ao lado os envelopes
E vá logo me escutando:
Desejo para o amigo
Um ano novo feliz
Cheio de tanta ventura
Que um verso escrito não
diz.
Quero que a vida sorria
Que goze muita saúde
Que ganhe bastante dinheiro
Que Deus na terra o ajude.
Mas, escute, velho amigo,
O que eu lhe quero dizer:
Já não tenho o que fazer
Com “seu” doutor Marroquim,
Pois na sua vida boa,
Nunca se lembra de mim.
Desde janeiro passado
Que o jornal tem publicado
As produções que remeto...
E enquanto isso se publica
O poeta velho aqui fica
Cansado, chupando o dedo...
Vinte produções mandadas
Foram aí publicadas
Até com fotografias...
E enquanto eu gasto em
retratos,
Vejo (ai senhores ingratos)
Minhas “gibeiras” vazias.
O Marroquim permanece
(Como quem faz uma prece)
Com a sua alma “polar”
Frio, indiferente, farto,
E eu aqui em meu quarto
Morrendo de trabalhar!
“Seu” Alcies, ouça, acorde,
A quebradeira me morde,
Não posso ficar assim!
Para não levar-me à breca,
Peça a Leitão, o careca
Que ele se lembre e mim.
Diga-lhe que o poeta sofre
Que ele abra esse velho
cofre
Onde o dinheiro faz ninho
E mande-me algumas pratas
Pra eu gastar com as mulatas
Ou... com um copo de vinho!
Peça a “nota” ao Marroquim
E sapeque para mim
Um cheque de lá pra cá
A vida aqui é espeto!
E nas farras que eu me meto
Coisinha pouca não dá!
(...)
Meu caro Alcides socorra
Este náufrago infeliz!
Não deixe que aqui eu morra
Só esfregando o nariz!
Receba ainda os meus votos
Para um felicíssimo ano!
Remeta o cheque depressa.
Passe bem. Rogaciano.
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