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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

JOÃO BATISTA DE SIQUEIRA - CANCÃO

No dia 12 de maio do próximo ano, se vivo fosse, o poeta João Batista de Siqueira, conhecido como: Cancão, estaria completando exatamente cem anos. Justamente no mês das noivas, das novenas. Mês de Maria (a mãe de Jesus, o Sumo Bem), de quem Cancão era supremamente devoto.

Os sertões do Pajeú pernambucano e Cariri paraibano terão a oportunidade de celebrar o aniversário do seu particular Sumo Bem. Pois, como alguém já disse, caso existisse um Deus da poesia naquelas regiões, esse Deus teria nome e seria – Cancão, o Pássaro Poeta.

Não é pra menos, já que o Pajeú pernambucano e o Cariri paraibano contam com a magia do Pajeú, o rio feiticeiro e o garboso desfile da Serra da Borborema, com suas carregadas baterias (contrafortes), e a proteção parcimoniosa dos Deuses da poesia, que ecoa na ressonância das casas e taperas de seus habitantes.

Se a língua portuguesa nasceu do brado das largas discussões do crochê popular. Se a língua portuguesa nasceu da prática oral e não dos textos eruditos da Roma Imperial. Então, podemos tomar o Pajeú e Cariri como autênticos precussores da oralidade poética da nossa língua pátria/sertaneja, da nossa língua mãe, tendo o – Homem Pássaro como o nosso eterno interlocutor poético, comum aos dois gêneros.

João Batista de Siqueira foi um homem simples fora da medida. Um homem comum nos hábitos, no ritual da vida, na sucessão dos dias, no gestual, no vestir. Um homem do campo, um agricultor.

Começou tocando viola, para depois ver que não dava para o “serviço”, largando-a a posteriori para se valer de um bico de pena, de um lápis, de um pedaço de papel de balcão para escrever seus poemas, suas revelações para guardá-las dentro de uma caixa de sapatos.

Homem de choro frouxo, de sentimento exposto a toda prova. Afeito à natureza dos cactos, das macambiras, dos irmãos pássaros, à relva. Daí, fora um pulo para o fortalecimento de suas asas, até alçar voos de maior amplitude, mais rasantes, profundos, longínquos. Rápidos. Na demonstração de um poeta completo, de sentimento assombroso, iluminado.

Ésio Rafael - Poeta, escritor e pesquisador

NINHO ROUBADO

Aquela rolinha do meu sombrião
Sem o seu ninho seu primeiro leito
Já chorou tanto que feriu o peito
Sem saber dos filhos, do lugar que estão.

Percorre às vezes toda a vastidão
Volta de novo a reparar direito
De galho em galho a espreitar com jeito
Procura ainda, mas procura em vão.

Assim a pobre e infeliz rolinha
Levando as horas a gemer sozinha
Eriça as penas, depois as sacode.

Ela não chora porque não tem pranto
Se tivesse pranto choraria tanto
Mas sem ter pranto quer chorar não pode.

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