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sábado, 5 de novembro de 2011

Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Manoel Filó


Preso a forte nervosismo
Sinto duras agressões
Me tangendo aos empurrões
Para os confins do abismo
Por falha no organismo
Meu coração já trepida
Minha mente poluída
Passa um filme de terror
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.



Para os trabalhos normais
Me considero indefeso
Ontem suspendi um peso
Que hoje não posso mais
Já demonstrando os sinais
Duma coluna pendida
Que só será corrigida
Se a idade também for
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

Eu nunca consegui ter
Um palacete encantado
Mas mesmo sacrificado
Sempre gostei de viver
Só não acertei fazer
Uma tinta garantida
Que sempre, ao ser removida
Desse o brilho anterior
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

Como a velhice é malvada
Perto do fim da viagem
Me atrapalhando a miragem
Nos grutilhões da jornada
Já vou minguando a passada
Igual a onça ferida
Que aceita ser socorrida
Pelo monstro caçador
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

Raramente vou à missa
Quando volto, é sem coragem
Que mesmo curta a viagem
Gera cansaço e preguiça
A dentadura postiça
Me deixa a fala espremida
Até a própria comida
Desequilibra o sabor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

Meus tempos de mocidade
Deus não consente voltar
Eu não consigo passar
Sem ser vítima da saudade
Com o pincel da idade
Minha pele foi tingida
A feição diminuída
Como o verão faz na flor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

Nos tempos da meninice
Comecei pagando um ágio
Não me livrei dum naufrágio
No temporal da velhice
Tudo que o mundo me disse
Teve a verdade medida
O sol da minha partida
Já vai perto de se pôr
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

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