Pesquisar neste blog

sábado, 10 de março de 2012




Os poetas Edmilson Ferreira e Antonio Lisboa, criticam a ganância humana no mote: 
Pra que tanta riqueza se a pessoa/Nada leva daqui pra sepultura?


EDMILSON FERREIRA

Muitas vezes, sozinho, eu me pergunto:
Pra que tanta riqueza se depois
Que o caixão encostar e couber dois
O amigo melhor não quer ir junto?
Pra que cara fragrância se o defunto
Não exige perfume da “natura”?
Mesmo a alma é cheirosa quando é pura
Mas o cheiro do corpo ainda enjoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

ANTONIO LISBOA

Pra que casa cercada de muralha
Se a cova é cercada pelo pranto?
Se pra Deus todos têm do mesmo tanto
Tanto faz a fortuna ou a migalha.
Pra que roupa de marca se a mortalha
Não requer estilista na costura?
Se o cadáver que a veste não procura
Nem saber se a costura ficou boa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

EDMILSON FERREIRA

Pra que eu me esconder detrás de um pão
Se a miséria não bate em minha porta?
Pra que eu me cansar regando horta
Se amanhã ou depois já é verão?
Pra que eu confiar no coração
Sem saber quanto tempo a vida dura?
Se a ferida da alma não tem cura
Quando é a ganância que a magoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

ANTONIO LISBOA

Pra que eu inventar de ser afoito
Se eu não tenho coragem pra vencer?
Pra que eu comprar queijo sem poder
Se na mesa tem pão, ovo e biscoito?
Pra que eu colocar um trinta e oito
Entupido de bala na cintura?
Se a razão é a arma mais segura
Ter sossego é melhor do que coroa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

EDMILSON FERREIRA

Pra que eu toda hora dar balanço
No que eu tenho ou andar atrás de bingo?
Pra que tanta hora extra no domingo
Se Deus fez esse dia pro descanso?
Pra que eu trabalhar igual boi manso
Se a chibata do dono me tortura?
Pra que eu reclamar da minha altura
Se o que a mão não alcança, Deus me doa?
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

ANTONIO LISBOA

Pra que eu ter mansão no Litoral
Se um rancho está bom no pé-de-serra?
Se eu fizer prédio alto aqui na Terra
Lá no céu vai faltar material
O meu curso maior foi o Normal
O meu livro tem sido a Escritura
Pra que eu aprender Literatura
Se a palavra de Deus me aperfeiçoa?
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

EDMILSON FERREIRA

Eu não sei pra que toda essa ganância
De querer-se o poder a qualquer custo
Se diante de Deus poder ser justo
É gozar da nobreza em abundância
Querer bem é o bem da importância
Mas acúmulo de bens é desventura
Porque não há ninguém com estrutura
Que a ferrugem do tempo não corroa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

ANTONIO LISBOA

O desejo de grandes e pequenos
É um dia poder ter uma casa
Mas a fonte de renda quando é rasa
É melhor viver mais e sonhar menos
Pra que eu requerer tantos terrenos
Em paróquia, cartório e prefeitura
Se em menos de um metro de largura
Cabe até um caixão tipo canoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

EDMILSON FERREIRA

Não sou dono de ônibus nem de trem
Mas enquanto eu puder me locomovo
Pra que eu invejar um carro novo
Se o transporte final nem rodas têm
Nem me avisa dizendo quando vem
Porém anda na minha captura
Bem abaixo da sua cobertura
Ele tem quatro asas, mas não voa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

ANTONIO LISBOA

Pra que eu com dois olhos na barriga
Se os da cara já são suficientes?
Pra que eu invejar os meus parentes
Se já sei que o retorno é uma intriga?
A formiga que evita ser formiga
Cria asas, e se torna tanajura
Cresce a bunda demais, cria gordura
Fica muito pesada e cai à toa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

 Fonte: VoaViola (transcrição do aúdio)

Nenhum comentário:

Postar um comentário