Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, era
repentista, considerado o "rei do trocadilho". Nasceu a 06 de janeiro
de 1915 na Vila Umburanas, hoje Município de Itapetim (na época pertencia a São
Jose do Egito). Concluiu o curso ginasial em 1933, no Recife, de onde saiu com
a viola nas costas, para fazer cantorias.
Foi um dos mais afamados poetas populares do Nordeste.
Irmão de outros dois repentistas famosos (Dimas e Otacílio Batista) e genro do
poeta Antônio Marinho (a "Águia do sertão"), foi um dos grandes
parceiros do paraibano Pinto do Monteiro. Satírico e rápido no improviso, era
temido por seus competidores.
Louro morreu em São José do Egito, a 05 de dezembro de
1992.
Numa cantoria em São José do Egito, um rapaz que
atendia pelo nome de DECA, ouvia os belos improvisos de Lourival, sem
manifestar qualquer desejo de colaborar com os cantadores. A certa altura da
cantoria, Lourival dirigiu-se ao rapaz, tomando por base as quatro letras que
formavam seu apelido:
Boto o “d” e boto o “e”
Boto o “c” e boto o “a”
Depois um acento agudo
Em vez de DECA, é decá!
Tiro o “d” e tiro o “e”
Seu Deca, venha até cá.
Um cidadão por nome de André, presenciava uma cantoria
de Lourival, quando ele tecia elogios aos contribuintes. A presença de André
motivou o cantador para solicitar uma colaboração:
Eu me confio em André
Porque sua paga é grande
Tire o “r” e o acento
Que talvez o mesmo ande!
No princípio, bote um “m”
Por caridade, me mande.
Tércio Rafael, rico fazendeiro, estava presente a uma
cantoria de Lourival, tendo sido saudado por este, com a seguinte estrofe:
Eu vou convidar a Tércio,
Para ver se Tércio vem
Melhoraria de sorte
Ficaria muito bem
Se Tércio mandasse um terço
Dos terços que Tércio tem.
Outro senhor por nome José Tota, foi chamado por
Lourival, para pagar a cantoria, quando este cantava com Canhotinho:
Canhotinho está na hora
De convidar José Tota
Tire o “t” e bote o “n”
Pra nós ganharmos a nota
Tire o “n” e bote o “b”
Para ver se Tota bota.
Recebendo duas notas de um sargento que presenciava
uma cantoria, Lourival agradeceu, desejando-lhe promoção na carreira militar:
As notas deste sargento
Eu gostei de recebê-las
Deus queira que estas três fitas
Se transformem em três estrelas
Subam dos braços pros ombros
E esteja vivo pra vê-las.
Um outro sargento que ouvia Lourival, não contribuía
com nada, tendo recebido o que mereceu:
Esse aí não será nunca
Nem capitão nem tenente
O galão que ele merece
É um galão diferente
É um pau com duas latas
Uma atrás, outra na frente.
Certo violeiro, apertado com Lourival, procurou na voz
de seu companheiro, argumento para suas desculpas fracas. Lourival aproveitou o
tema explorado pelo colega, que só falava em peito forte, e arrasou-lhe com
esta estrofe:
Esse negócio de peito
Cousa que não embaraça
Mais peito do que você
Tem uma porca de raça
Tem duas fileiras grandes
E duma porca não passa.
Numa cantoria com Odilon Nunes de Sá, este advertiu
Lourival:
Cuidado, seu Lourival
Que sou um velho capaz.
Lourival responde:
Você é velho demais
E ainda quer ser valente
Em cima não tem cabelo
Na boca não tem um dente
Por fora não tem figura
Por dentro não tem repente.
Num desafio, o colega que cantava com Lourival termina
um estrofe dizendo:
Num velho da tua idade
Eu dou é de dez a zero!
Lourival dá a merecida resposta:
Eu muito lhe considero,
Por isso estamos cantando
O grande defeito seu
É cantar se pabulando
Você pode dar o zero
Mas o dez fica faltando!
No dia do falecimento do papa João XXIII, Lourival
cantava com Otacílio, seu irmão mais novo. Por coincidência, era o último dia
de um mês de trinta e um. Como bom católico, Otacílio lamentava aquele
acontecimento:
O mês já chegouao fim
O Papa não mais existe!
Lourival concluiu com esta sextilha:
Em tudo isso o mais triste
Morrerem os dois duma vez
O mês se acabou com o Papa
E o Papa no fim do mês
O mês sendo trinta e um
E o Papa era vinte e três.
Lourival é conhecido popularmente por “Louro” ou
“Lourodo Pajeú”, nome inclusive do hotel do seu filho Val, em São José do
Egito. Falando sobre a sua vida disse:
É muito triste ser pobre
Pra mim é uma mal perene
Trocando o “p” pelo “n”
É muito alegre ser nobre
Sendo pelo “c” é cobre
Cobre figurado é ouro
Botando o “t” fica touro
Como a carne e vendo a pele
O “T” sem o traço é “L”
Termino só sendo “Louro”!
João Andorinha, referindo-se a um romance de João
Martins de Athayde, “O Dragão do Rio Negro”, fez esta advertência a Lourival:
Sou igualmente ao Dragão
Do Rio Negro, falado...
Lourival deu a resposta com este trocadilho:
Pra Dragão estás errado,
Pois Lourival já te explica
Tira letra, apaga letra
Bota letra e metrifica
Tira o “d”, apaga o “r”
Bota o “c”, vê como fica.
Cantando com Ivanildo Vilanova, este falou da nobreza
da família:
Sou príncipe dos cantadores
Porque papai é o rei.
Lourival destrona a família:
Com seu pai eu já cantei
Com você vou ver se canto
Eu fiz o pai verter lágrima
Faço o filho verter pranto
Dou no pai e dou no filho
Só respeito o Espírito Santo.
Numa reunião de amigos, foi solicitado a glosar no
mote: Mulher não tem coração.
Um cientista profundo
Solicitou-me uma vez
Que eu enumerasse os três
Desmantelos desse mundo
Eu respondi num segundo
Doido, mulher e ladrão
E disse mais a razão:
Doido não tem paciência
Ladrão não tem consciência
Mulher não tem coração.
Cantando com Otacílio, este para instigá-lo,
elogiou-se:
Sou o gigante dos versos
O Cantador ideal
No campo da poesia
A minha fama é geral
Não tenho medo de Dimas
Quanto mais de Lourival!
A resposta de Lourival:
Mas inda sou general
Você, um soldado raso
Sem luz e sem consciência
Que quando me vê, se esconde
Pra não fazer continência.
Otacílio prossegue:
Seu repente tem essência
É feito sem embaraço
Mas sua viola é tão feia
Que só parece um cabaço
Mais bonita do que ela
Eu tenho visto em palhaço.
Otacílio no momento vestia-se alinhadamente e possuía
uma viola bonita, nova e enfeitada, o oposto de Lourival, fato que mereceu esta
represália:
Mais feia que a dum palhaço
Mas o dono é inteligente
A sua é muito enfeitada
Mas é fraco o seu repente
Não é coleira bonita
Que faz cachorro valente!
Severino Pinto cantando com Lourival se auto-elogia:
No lugar que Pinto canta
Não vejo quem o confunda
O rio da poesia
O meu pensamento inunda
Terça, quarta, quinta e sexta
Sábado, domingo e segunda.
Lourival prontamente responde:
Sábado, domingo e segunda
Terça-feira, quarta e quinta
Na sexta não me faltando
A tela, pincel e tinta
Pinto, pintando o que eu pinto
Eu pinto o que Pinto pinta!
No mote dado pelo Dr. Raimundo Asfora, “Não tive
amores sonhei-os / Mas possui-los não pude”, Lourival fez esta belíssima
estrofe, recitada por todos os apologistas e admiradores do mestre Louro:
Na vida senti abalos
E desesperos medonhos
Sonhos, sonhos e mais sonhos
Sem nunca realizá-los
Na fronde inda trago os halos
Das auras da juventude
Porém não tive a virtude
De dormir entre dois seios
Não tive amores, sonhei-os
Mas, possuí-los não pude.
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