Mote:
O cordel completou um centenário/Viajando nas asas do pavão.
(Geraldo
Amâncio)
Foi
Agostinho Nunes do Teixeira,
Escreveu
a história pioneira
Com
os filhos Nicandro e Ugolino.
Prosseguiu
com Germano e com Silvino,
Eis
aí a primeira geração.
O
romance no estado de embrião
Fervilhou
no poder imaginário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
Teve
berço no chão paraibano,
Da
cultura do povo um grande guia,
Registrou
a primeira cantoria
Na
peleja de Inácio com Romano.
A
memória do padre Otaviano
Levou
luz onde havia escuridão,
O
veículo maior de informação
E
o primeiro jornal do proletário
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
O
cordel memoriza a cantoria
Na
peleja de Pinto com Marinho,
Com
o Cego Aderaldo e Zé Pretinho,
O
que via apanhou do que não via.
Zé
Gustavo e Roxinha da Bahia,
Nisso
tudo aparece até o cão,
Na
peleja do Diabo e Riachão
Foi
Assu testemunha do cenário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
A
maior expressão do menestrel
Não
há força que atinja o seu alcance
O
campônio conhece por romance
Ou
então por folheto de papel.
Só
depois veio o nome de cordel,
Que
em feira era exposto num cordão
Ou
então numa lona pelo chão
E
um poeta a cantar feito um canário.
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
Registrando
o passado e o presente,
Para
tudo o cordel tem sempre espaço:
Pra
amor; pra política, pra cangaço,
Romaria,
promessa e penitente.
Retirante,
romeiro, presidente,
Seca,
fome, fartura, inundação,
Nele
encontra o melhor documentário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
Dos
cordéis elegeu-se o mais famoso,
Entre
métrica, oração, rima e estilo,
O
segundo lugar é de João Grilo
E
o primeiro o Pavão Misterioso,
A
história de um pássaro formoso
Misturando
real com ficção.
O
enredo imortal de uma paixão
Imprimiu-se
no nosso imaginário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
O
cordel é valente e denuncia
O
que esconde o poder que nos domina,
Conceição
do Araguaia uma chacina
Que
revolta, entristece e arrepia.
A
tragédia em Canudos da Bahia,
O
massacre no Sítio Caldeirão
Tem
um rastro de morte e opressão
De
um governo despótico e arbitrário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
O
cordel atestou que Conselheiro
Ainda
exige pesquisa e mais estudos
E
que o santo profeta de Canudos
Quis
salvar o Nordeste brasileiro.
Padre
Cícero Romão em Juazeiro
Construiu
um caminho do perdão,
O
quarteto maior da salvação:
Penitência,
jejum, fé e rosário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão
Luminares
da arte e da cultura,
O
Cascudo e Ariano Suassuna.
Pedestais
do saber; têm por tribuna
O
cordel de onde emana a iluminura.
Toda
saga de um povo se emoldura
Nas
histórias da sua tradição,
Se
encontra o registro da nação
Na
memória do acervo literário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
No
futuro, a famosa Academia
Brasileira
de Letras, com seus mitos
Vai
saber que nem só os eruditos
Têm
direito a medalha e honraria.
Os
que fazem cordel e cantoria
Fazem
parte da lista da exclusão.
Sem
diploma, troféu, sem medalhão,
Tem
no mundo da idéia um santuário,
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
O
cordel continua sempre forte
Sem
temer novidades nem impasse;
Como
fênix, da cinza ele renasce,
Desmentindo
os que pregam sua morte.
Por
um lance de Deus, pra nossa sorte,
Do
cordel temos nova geração,
Sepultando
na cova da ilusão
Os
profetas do seu obituário.
O
cordel completou um centenário
Viajando
nas asas do pavão.
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