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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Versos de Dimas Bibiu

Eu sinto tanta saudade
Que certo dia parei
Perto de um velho chorando
Porque choras? Perguntei
Ele disse: é com saudade
E eu sendo vítima chorei.

FANTASMA DA VELHICE

Você tá vendo esse velho
De cabelo embranquecido
Os olhos quase fechados
O semblante entristecido
Respeite, seja educado
Que é um prédio do passado
Que está pra ser demolido.

Estou velho e esquecido
Da soberba humanidade
Não posso alcançar o trote
Da fogosa mocidade
Mas tenho no meu interior
Quadros pintados de amor
Mágoa, tristeza e saudade.
 
Quem me ver, tenha bondade
Passe, não estacione
Que eu sou um obcecado
Atingido do ciclone
Por favor, não se atreva
Não pergunte, não escreva
Não chame, nem telefone.
 
Quero que o mundo ressone
Esquecido do meu eu
O meu tempo já passou
O meu prazo se venceu
O prédio trincou a base
Estou terminando a fase
Da vida que Deus me deu.

A velhice me envolveu
Com um manto transparente
Quando olho no espelho
Me sinto tão diferente
Que passo a mão no meu rosto
Só pra ver se tenho o gosto
De ser outro em minha frente.
 
Mas é verdade, infelizmente
Tudo quanto eu observo
Cabisbaixo e pensativo
Humilhado eu me reservo
Em busca de um lugar oculto
Aonde escondo o meu vulto
E as mágoas que eu conservo.

Da tristeza? Sou um servo
Na minha choupana tosca
A velhice me alvejou
Acertou mesmo na mosca
Ferido e cambaleando
Eu vejo a vida chegando
No último fio da rosca.

Na minha choupana tosca
Ninguém faz uma visita
Que a mocidade não gosta
Da casa que o velho habita
Fogem da minha guarida
Transformando a minha vida
Cada vez mais esquecida.

Minha personagem grita
Pedindo mais assistência
O meu sistema nervoso
Faz a sua interferência
Mas o tempo, esse impostor
É o único causador
Dessa minha decadência.
 
Diante a minha existência
Lutei para não perder
Minha doce mocidade
E comecei envelhecer
E o pintor da deformagem
Me pôs essa maquiagem
De ser palhaço sem ser.

Acho que devia ter
Direito a uma reforma
Mais lembrança, mais potência
Meu corpo voltar em forma
Que essa tal de decadência
É obra da Providência
Mas ninguém não se conforma

Pergunto, ninguém informa
Como foi que conseguiram
Tudo quanto eu achei bom,
Recolheram e consumiram
Eu fique só com o fardo
Do sentimento que guardo
Do mal que me destruíram,
 
Os meus colegas? fugiram
Como se foi minha infância
Ficaram longe de mim
Não deram fé da distância
Subiram pra classe alta
E lá não sentiram falta
Desta pequena importância.

Perdi a minha elegância
Minha presença aborrece
O povo passa por mim
Finge que não me conhece
Sem o meu porte fidalgo
Comigo acontece algo
Que só sabe quem padece.

O homem quando envelhece
Com os moços não se une
E por casualidade
Na hora em que se reúne
Pobre do velho indefeso
É tratado com desprezo
Um caso que fica impune.
 
Nossa existência reúne
Quatro “fase” em sua empresa
Primeira é a nossa infância
De inocência e beleza
Segundo é a mocidade
Três, velhice com saudade
Quarta é morte sem defesa.
 
Nossa vida é a princesa
Embalada pelo sono
Na mocidade ela impera
Na velhice perde o trono
Se despede do reinado
Vai chorar pelo passado
No museu do abandono.
 
Nosso sangue? É o carbono
Fica entre a carne e o couro
Quem tocar nele se suja
Com tinta que vale ouro
Mas depois que o sangue coalha
É morte certa é mortalha
Cova, enterro, reza e choro.

Falar em morte é agouro
Pra quem está na meiguice
Quem nunca pensar que vai
Ser preso pela velhice
Numa cadeia tristonha
Que o prazer é quando sonha
Brincando na meninice.

O fantasma da velhice
Todo dia me aborrece
Dizendo que a morte solta
Noite e dia permanece
Vai matar o conterrâneo
Amigo e contemporâneo
E brevemente aparece.

Sei que esse dia acontece
Do mundo eu perco as estimas
Ficará alguém falando
Nas minhas pequenas rimas
O resto o tempo consome
E assim termina o “home”
Que meu pai chamou de DIMAS.
 
Mote de Manoel Filó: Quando a gente magoa uma saudade / Incomoda demais o coração

sei que fiz a mim mesmo um grande mal
Fui à casa paterna onde nasci
No terreiro lembrei onde vivi
Os meus sonhos de infância, sem igual
Chorei vendo as forquilhas do curral
Que pai fez encostado no oitão
Fui entrar no antigo casarão
Senti cheiro da minha mocidade
Quando a gente magoa uma saudade
Incomoda demais o coração.

Esse verso foi feito quando chegou luz elétrica no Sítio Serrinha, São José do Egito.

Quando eu passo na casa da Serrinha
A tristeza que eu sinto amarga e dói
Ninguém vê Mané Marque o pai herói
No alpendre sentado a tardezinha
Conhecido na região vizinha
Como um mito de sua região
Volte e venha, olhar sua mansão
Possuindo a mais linda claridade
Quando a gente magoa uma saudade
Incomoda demais o coração.

Esse outro foi feito para dedicar a poetisa Rafaelzinha, segundo Dimas, como recordação do passado feliz ao lado dela em Serrote Pintado.

Inda o tempo querendo ele não toma
Esse nome do Serrote Pintado
Paraíso dos gênios do passado
Onde as festas que houve ninguém soma
Quem visita essa casa sente aroma
De Alice, de Louro e Abraão
Que a lembrança daqueles que se vão
É sentida com mais sinceridade
Quando a gente magoa uma saudade
Incomoda demais o coração.

Verso de autoria do poeta Erasmo de Ouro Velho – PB.

Numa tarde de outono, o sol poente
Num domingo ou por outra, um feriado
Um riacho do leito do roçado
Dando estouro com o peso da enchente
Um açude sangrando lá na frente
São lembranças da infância inesquecida
Mas a marcha do tempo deu partida
No compasso vexatório da idade
Quando a gente magoa uma saudade
Incomoda demais o coração.

Verso feito por Dimas Bibiu para ser afixado no túmulo dele.

 Eu nasci muito feliz
Gozei minha mocidade
Deus será o meu juiz
E para a eternidade
A minha morada eu fiz
Rôxa da cor da saudade.
 
No mote de Raimundo Asfora, Dimas fez essa beleza:

Na porta de um cabaré
Bem na esquina da rua
Tem mulher sentada nua
Outras duas “beba” em pé
Velha que pede um café
Porque não tem refeição
Mulher com chave na mão
Com raiva de quem não veio
Cabaré cortiço cheio
De abelhas da perdição

A noite passa acordada
Bebe, fuma e adultera
Chora pensando em quem era
Semilouca embriagada
Ver briga, tiro e facada
Tapa, soco e empurrão
Colegas mortas no chão
Quando finda o tiroteio
Cabaré cortiço cheio
De abelhas da perdição

Mulher dum corpo fogoso
Mas seu olhar não tem brilho
Porque despreza seu filho
E abandona o esposo
E vai procurar repouso
Na casa da corrução
Lá recebe ingratidão
Desgosto, mágoa, aperreio
Cabaré cortiço cheio
De abelhas da perdição

No cassino a meretriz
Adora o álcool e o fumo
Baliza que aponta o rumo
Do seu fadário infeliz
E seu mal mostra a raiz
Quando chega à conclusão
De levar um empurrão
Dum preto, andrajoso e feio
Cabaré cortiço cheio
De abelhas da perdição

Mulheres prostituídas
Que seu pudor não quiseram
E no cabaré vieram
Pecar com milhões de vidas
Suas veias poluídas
O vento em deformação
Recebe fecundação
Morre o feto, seca o seio
Cabaré cortiço cheio
De abelhas da perdição
 
 

 

 

2 comentários:

  1. NOSSA SIMPLESMENTE LINDO...SINTO O PEITO ENCHER DE SAUDADE VIVIDA DE SAUDADE A VIVER.

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  2. Cada verso que leio e se refere ao Pajeú, me recorda o tempo que vivi em São José do Egito (de Janeiro de 1980 a agosto de 1982). Terra de um povo feliz e hospitaleiro!!!

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