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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013




SEVERINA BRANCA: A POETISA DA EMBRIAGUÊZ


A situação de Severina Branca é a seguinte: quando ela bebia não faltava amigos para visitar, pedir para recitar poesias, faziam filmagem, davam dinheiro e abraços era o que não faltava. Agora está cega e sozinha, onde andam estas pessoas? ela agora precisa da visita desses desaparecidos mais do que nunca! Severina Branca vendia o corpo para sobreviver (era prostituta na famosa salgadeira de São José do Egito) e criar seus filhos, além de sustentar sua embriaguêz, seu vício...talvez uma das maiores poetisas do Pajeú...

Inda sinto o tremor das mãos sujas
Afagando o meu corpo pecador
Ao invés do prazer sentia dor
E no meu peito a voz dizendo fujas.
Entre as brechas das telhas as corujas
Agouravam as minhas desventuras
Eu gritava pra Deus lá nas alturas
Leve logo este ser que é tão sofrido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Quantos homens chegavam embriagados
Dando chutes na porta como loucos
Os gentis para mim foram tão poucos
Eram seres tristonhos, reservados.
Eu perdi a noção dos meus pecados
Pela fome com facas de perjuras
Que cortava minha alma com agruras
E sangrava o meu peito já ferido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.


Severina Branca, por Zeto.

Sou da casa em que de madrugada
A criança acalenta-se ao cio
E faz sombra com a luz de um pavio
Que tem fogo amarelo igual espada
A mulher nua e fria está deitada
Ao seu lado um parceiro de aventuras
Que lhe mente a tentar fazer ternuras
Traz na bota dinheiro escondido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Geralmente depois das oito horas
Tomo banho me arrumo no meu quarto
Para o salão toda enfeitada toda parto
Pra aceitar uns convites, e outros foras.
A cachaça e o fumo são escoras
Dando ao corpo alegrias e torturas
E as doses que eu tomo são tão puras
Que o ambiente se torna colorido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

O pecado pra mim é testemunha
Pois ladeia o meu peito o tempo inteiro
Do primeiro ao último parceiro
Dou um nome diferente, faço alcunha.
O vermelho é perene em minha unha
Meu trabalho é melhor sendo às escuras
Sou alguém que procura umas procuras
Que navegam no rio do gemido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Mas às vezes pra cama eu vou sozinha
Procurei muitos homens não achei
E aquele que eu mais acreditei
Deu-me um “seixo” e eu paguei o quarto à Dinha
Eu já sei que é tardia a ladainha
Parecido com um pingo em pedras duras
Sou irmã, pois, do canto das loucuras
E o meu peito é acorde do alarido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Poema transcrito do LP de Zeto – Andarilho
Pedro Torres




sertaoemfotoepoesia.blogspot.com

5 comentários:

  1. Quanta sensibilidade, engenho e arte ! Salve!

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  2. Quanta sensibilidade, engenho e arte ! Salve!

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  3. A sequência dos fatos me pergunta
    Quando chega o destino que anseio?
    De vazios tornei-me um homem cheio
    E o olhar desse mundo não me assunta.
    Tantas dores em uma ação conjunta
    Aumentando em meus sonhos as lonjuras
    Eu procuro e o que vejo são procuras
    Não completo o trajeto pretendido
    O silêncio da noite é quem tem sido
    Testemunha das minhas amarguras.

    Mote : (Severina Branca)
    Glosa: Romildo Alves, o garotinho do cordel

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  4. A madrugada e o silêncio dão adendo
    Criam um mundo de quadros produtivos
    Do Amor e da Paixão são aliados
    Pro cansaço e pra tristeza sedativos
    Se tão logo se apresenta a solidão
    Faço fogo e disparo com bravura
    À algoz que atropela a ferraduras
    Derrotado me encaro estarrecido
    O silêncio da Noite é que tem sido
    Testemunha das minhas amarguras

    Por Kainã Terto Pereira, 01/08/2018

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