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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013


Do livro do pesquisador Joselito Nunes, intitulado "Pinto Velho do Monteiro - Um Cantador sem Parelha", retiramos os versos do poeta Antônio de Catarina, no mote: Não há mais cascavel de bote armado/Na vereda apertada do repente.

Com a morte de Pinto do Monteiro
Cantador pode andar desassombrado
Que a estrada do verso improvisado
Ficou livre pra todo aventureiro
Sem porteira, sem cerca e sem vaqueiro
Dedicado, fiel e competente
E a surpresa do verso inteligente
Já é quase figura do passado
Não há mais cascavel de bote armado
Na vereda apertada do repente

Só a morte faria esta desgraça
Com o nosso querido repentista
Pra consolo ainda tem Louro Batista
Com setenta e mais cinco na carcaça
Já sentindo também sua carcaça
Derivar para um rumo diferente
Seu desejo era Pinto em sua frente
Pra cantar um martelo malcriado
Não há mais cascavel de bote armado
Na vereda apertada do repente

Cantador balaieiro pode agora
Ir ao pico da Serra do Teixeira
Bater asas e cantar pela ribeira
Até mesmo sem métrica e sem sonora
Mesmo assim por ali não faz demora
Quando ouvir um barulho diferente
Vai lembrar-se do bote da serpente
Do veneno, do guizo e do chiado
Não há mais cascavel de bote armado
Na vereda apertada do repente.

Ainda da mesma obra, transcrevemos os seguintes versos de autoria de Dedé Monteiro:

Pinto, o mestre dos mestres da viola
Trouxe o mesmo destino de Pelé
Um foi craque na rima, outro no pé
Um foi gênio no verso, outro na bola
Dois doutores formados sem escola
Um tirando em primeiro, outro em primeiro
O da bola inda brilha, e o violeiro
Já que a morte parou-lhe o coração
Só nos resta chorar na solidão
A saudade de Pinto do Monteiro

Já que a luz do repente escureceu
Já que o som da viola está calado
Já que o céu do improviso está nublado
Já que a força da rima escureceu
Já que a foice da morte emudeceu
O maior repentista brasileiro
Só nos resta chorar na solidão
A saudade de Pinto do Monteiro

Quem quiser conhecê-lo atualmente
Pra saber o que era um cantador
É preciso arranjar um gravador
E uma fita do mestre do repente
Já pra nós que o tivemos tão presente
Tão poeta, tão rei, tão verdadeiro
Vomitando improviso o tempo inteiro
Dando pisa e vendendo inspiração
Só nos resta chorar na solidão
A saudade de Pinto do Monteiro

Ele agora está junto de Marinho
O parceiro de sua preferência
A cantar pra Divina Onipotência
Com Xudu de Pilar e Canhotinho
Ou então, solitário ao som do pinho
A contar sua vida ao Deus-Cordeiro
Desde o tempo de "praça" e de vaqueiro
Os primeiros sopapos do caixão...
Só nos resta chorar na solidão
A saudade de Pinto do Monteiro

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