No estilo Sete linhas, os poetas Ivanildo Vilanova e Sebastião
Dias cantaram o tema “Cenas da Noite”.
NO ÉTER CELESTIAL
CONSTELAÇÕES INQUIETAS
NEBULOSAS MOVIMENTAM
MILHÕES DE COISAS SECRETAS
E A LUA NA IMENSIDADE
IMORTALIZA A SAUDADE
NO CORAÇÃO DOS POETAS
DA CASA SEM HABITANTE
O VENTO ABRE A JANELA
A FERRUGEM COME A TRANCA
O CUPIM A TARAMELA
E OS FANTASMAS BARULHENTOS
OCUPAM OS APARTAMENTOS
DOS QUE FORAM DONOS DELA
SEBASTIÃO DIAS
O ASSASSINO NA CELA
MEDITA SEM PACIÊNCIA
ARREPENDIDO DA HORA
QUE PRATICOU VIOLÊNCIA
ESPERA O PERDÃO SUBLIME
SENTINDO O PESO DO CRIME
MARTELANDO A CONSCIÊNCIA
IVANILDO VILANOVA
A MULHER SEM INOCÊNCIA
DO ANTRO PROSTIBULAR
BAMBOLEIA AS CARNES GASTAS
COM FADIGA NO OLHAR
DEITANDO O CORPO VENDIDO
NO VELHO PANO ENCARDIDO
DAS CAMAS DO LUPANAR
SEBASTIÃO DIAS
PELO CASSINO VULGAR
O JOGADOR FAZ OFÍCIO
AOS TRUQUES DA JOGATINA
FALSIDADE E ARTIFÍCIO
ENTRETIDO NO BARALHO
TRAZ O SUOR DO TRABALHO
E DEIXA NA MESA DO VÍCIO
IVANILDO VILANOVA
ENQUANTO CHEGA O SOLSTÍCIO
O LOUCO FALA INTRANQUILO
GESTICULA, GRITA E CHORA
RASGA OS LENÇÓIS, MATA UM GRILO
SE FERE, PUXA OS CABELOS
ESPANTANDO OS PESADELOS
DA SOLIDÃO DO ASILO
SEBASTIÃO DIAS
O MERETRÍCIO É UM SILO
ONDE A CARNE É O VASCULHO
RESINA É CHAGA E DOENÇA
O OSTRACISMO É GORGULHO
A COBERTA É A GALHOFA
DA VIRGINDADE QUE MOFA
NO PANTANAL DO ORGULHO
IVANILDO VILANOVA
O GUARDA CESSA O BARULHO
O ÉBRIO ENCERRA O PASSEIO
O SILÊNCIO ACOLHE AS TREVAS
A IGREJA VIBRA O SEIO
E O SINO DEPOIS DAS ONZE
COM MARTELADAS DE BRONZE
DIVIDE A NOITE NO MEIO
SEBASTIÃO DIAS
DE VELHOS OS ABRIGOS CHEIOS
SEM VISITAS NEM PRESENTES
CADA VELHO TEM POR SI
OS OUTROS VELHOS DOENTES
REZAS, MONÓLOGOS, PERGUNTAS
O REUMATISMO NAS JUNTAS
E O DESPREZO DOS PARENTES
IVANILDO VILANOVA
DORME O ÓRFÃO NOS BATENTES
DOS EDIFÍCIOS GIGANTES
EXPOSTO AO FRIO E A CHUVA
E AO ESCÁRNIO DOS PASSANTES
O GOLPE DOS MALFEITORES
A RAIVA DOS ZELADORES
E OS GRITOS DOS VIGILANTES
SEBASTIÃO DIAS
O LADRÃO SE ARMA ANTES
A FIM DE ASSALTAR ALGUÉM
ROUBA DOS PAIS DE FAMILIA
PRA DAR AOS FILHOS QUE TEM
E COM A ARMA NA MÃO
ALÉM DE ROUBAR UM PÃO
ROUBAM A VIDA TAMBÉM
IVANILDO VILANOVA
A NOITE DE TUDO TEM
SOMBRA, SUSPENSE E MISTÉRIO
SERESTEIROS NAS ESQUINAS
CADÁVER NO NECROTÉRIO
E AS CRUZES DE BRAÇOS PRETOS
SIMBOLIZANDO ESQUELETOS
PERDIDOS NO CEMITÉRIO
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