Belíssimos sonetos do poeta Belmiro Braga.
DESPEDIDA
E partes amanhã! . . . E, triste, eu penso
no que há de
ser de mim, meu doce encanto . . .
E sinto os
olhos úmidos de pranto
e na alma a
angústia de um pesar imenso . . .
Eu tenho
agora o coração suspenso,
nos lábios a
mudez, no olhar o espanto:
- feiticeira,
puseste-me quebranto,
tu és dona de
mim, eu te pertenço. . .
E partes
amanhã, meu bem querido,
sem que eu
possa, ditoso e comovido,
beijar a tua
fronte e os olhos teus. . .
Sem que eu
possa, feliz, numa ânsia louca,
com meus
lábios gravar na tua boca
as cinco
letras da palavra - Adeus! . . .
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Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/
Belmiro Ferreira Braga, nasceu a 7 de janeiro de 1872, na Fazenda da Reserva, em Vargem Grande, depois Ibitiguaia (hoje, Belmiro Braga). Morreu no dia 31 de março de 1937, às 6 horas da tarde.
RETROSPECTO
Cincoenta anos já fiz, e não fiz nada
neste meus longos cincoenta anos, feitos
de pesares, de angustias, de despeitos,
a boca sorridente e a alma enlutada.
A estrada do Dever foi minha estrada,
da Virtude segui os sãos preceitos,
e nem honras, nem glorias, nem proveitos
encontro ao fim da aspérrima jornada...
Vivi sonhando com manhãs radiosas,
com bosques verdes, pássaros e ninhos,
e deu-me a vida noites tormentosas,
e deu-me campos mortos e maninhos...
Cincoenta anos vivi semeando rosas,
cincoenta anos vivi colhendo espinhos...
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A MULHER
Ela, dos 15
aos 20, nos enleia,
dos 20 aos
25, nos encanta,
dos 25 aos
30, não ha feia
e, dos 30 aos
40, não ha santa.
Dos 40 aos 50,
ainda é sereia,
dos 50 aos
60, desencanta:
— Se for
solteira — o proprio céu odeia,
se casada —
de nada mais se espanta.
Dos 60 aos
70, não descrevo;
embora guarde
n´alma um doce enlevo,
traz nos
olhos da mágoa o espesso véu...
Seja avó,
seja tia ou seja sogra,
toda velhinha
meus carinhos logra
por lembrar
minha Mãe que está no céu...
Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/
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