Quando
deixou de cantar, o poeta Pinto do Monteiro já estava com a idade bastante
avançada. Interrogado insistentemente pelos fãs e apologistas da cantoria de
viola porque havia deixado a profissão, Pinto respondeu através deste poema.
PORQUE
DEIXEI DE CANTAR
Recebi
mais de um poema
Fazendo
interrogação
Por
que eu da profissão
Mudei
de rumo e sistema
Resolverei
um problema
De
não poder tolerar
Muita
gente a perguntar
Ansiosa
pra saber
Em
verso vou responder
Por
que deixei de cantar.
Deixei
porque a idade
já
está muito avançada
A
lembrança está cansada
O
som menos da metade
Perdi
a facilidade
Que
em moço possuía
Acabou-se
a energia
Da
máquina de fazer verso
Hoje
eu vivo submerso
Num
mar de melancolia.
Minha
amiga e companheira
Eu
embrulhei de molambo
Pego
nela por um bambo
Para
tirar-lhe a poeira
Hoje
não tem mais quem queira
Ir
num canto me escutar
Fazer
verso e gaguejar
Topar
no meio e no fim
Canto
feio, pouco e ruim
Será
melhor não cantar.
Não
foi por uma pensão
Que
o governo me deu
Por
que o eu do meu eu
Não
me dá mais produção
Cantor
sem inspiração
Tem
vontade e nada faz
Eu
hoje sou um dos tais
Que
ninguém quer assistir
Nem
o povo quer ouvir
Nem
eu também posso mais.
Ando
gemendo e chorando
E
vendo a hora cair
O
povo de mim fugir
E
a canalha mangando
E
eu tremendo e tombando
Sem
maleta e sem sacola
Hoje
estou nesta bitola
Por
não ter outro recurso
Carrego
a bengala a pulso
Não
posso andar com a viola.
Com
a matéria abatida
Eu
de muito longe venho
Com
este espinhoso lenho
Tombando
na minha vida
Tenho
a lembrança esquecida
Uma
rouquice ruim
A
vida quase no fim
A
cabeça meio tonta
Quem
for moço tome conta
Cantar
não é mais pra mim.
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