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sábado, 21 de abril de 2012


Mote: 
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

(Aldo Neves)

Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Cantam os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O cenário enfeitando a capoeira
Só o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar o que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

De manhã quando o sol enfeita a barra
Uma flor se desprende e cai do galho
Camponês recomeça o seu trabalho
Sem ouvir a cantiga da cigarra
À tardinha as gangarras fazem farra
Com o milho depois de pendoado
E a enchente parece um aleijado
Sem andar se arrastando pelo chão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

Passa a brisa de leve o chão bafeja
Deixa a terra bastante perfumada
Bate a água na telha compassada
Como o sino tocando na igreja
Se transforma a paisagem sertaneja
Com o mato depois de enfolhado
Parecendo um quadro desenhado
Que Deus fez sem triscar nem com a mão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

O trovão ribombando serra à baixo
Parecendo com um tiro numa guerra
Uma chuva bem leve molha a terra
Desce a água correndo prá um riacho
Uma jia cantando chama um macho
Como quem diz: Adeus, muito obrigado!
Um rosário de barro avermelhado
Forma um círculo enfeitando o cacimbão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado.

fonte: Bestafubana

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