(Cancão)
Foi-se
meu tempo de flores
A
data da inocência
Dos
primeiros resplendores
Do
sol da minha existência
Meu
palacete dourado
Puramente
bafejado
Das
brisas celestiais
Felizes
dias risonhos
Foram
ilusões, foram sonhos
Que
ao despertar não vi mais
Estórias
de belas vindas
De
príncipes, reinos e fadas
Atrás
de princesas lindas
Que
ainda estão encantadas
Depois
da hora da ceia
Ia
saltar sobre a areia
Logo
que a lua surgia
Sentia
a má impressão
Olhando
a sombra no chão
Fazendo
o que eu fazia
A
fereza do chacal
Estórias
da minha avó
As
lendas de um animal
Que
tinha uma perna só
De
outras feras estranhas
Criadas
lá nas montanhas
Que
vinham sem paradeiro
Em
tudo eu acreditava
E
aquela noite passava
Sem
sair mais no terreiro
Ora
com meu currupio
Ora
empurrando meu carro
Seguia
em busca do rio
Pra
fazer bicho de barro
Na
fronde dos ingazeiros
Passava
dias inteiros
Em
um balanço seguido
O
meu pião de bom nome
Bastava
só esse nome
Para
ser mais garantido
Vi
as estrelas aos pares
Umas
as outras unidas
Julgava
ser luminares
De
crianças falecidas
Pensava
que os pirilampos
Fossem
faíscas nos campos
Que
vinham lá do penedo
Se
a mãe-da-lua gritava
Eu
muitas vezes ficava
Quase
tremendo de medo
As
borboletas ligeiras
Que
eu tanto perseguia
Nos
ramos das goiabeiras
Todas
manhãs que chovia
Com
meu bodoque afamado
De
canela de veado
Que
um dia eu mesmo fiz
Me
julgava o mais capaz
Debaixo
dos braunais
Na
caça dos bem-te-vis
Estórias
de um lobisomem
Que
à noite vinha do mato
Na
formatura de um homem
Tendo
a cabeça de gato
Mais
outro conto lendário
De
um ancião solitário
Pai
do Saci Pererê
Negrinho
que foi criado
Correndo,
espantando gado
Sem
ninguém saber por quê
O
conto das açucenas
Que
soluçavam na flora
O
pastor que criou penas
Depois
voou, foi embora
Outras
lendas de um dragão
Que
se criou no porão
De
um oceano profundo
Um
velho monge dizia
Que
um dia ele saía
Pra
devorar todo mundo
Dizia
um certo vizinho
Que
tinha havido uma data
Ninguém
andava sozinho
Por
causa do pai-da-mata
Velho
do corpo cascudo
Alto,
seco e cabeludo
Com
um só olho na testa
Á
noite sempre saía
De
manhã se recolhia
Num
grotilhão da floresta
Meus
avós também diziam
Que
em tempos de maré cheia
Os
marinheiros ouviam
A
canção de uma sereia
Era
uma moça encantada
Fazia
a sua morada
Em
diversas regiões
Na
hora em que cantava
Todo
o mar se agitava
Sorvendo
as embarcações
Adeus,
meu tempo ditoso
De
amor, sorriso e meiguice
Das
estórias de Trancoso
Dos
dias da meninice
De
meus tempos de criança
Hoje
só resta a lembrança
Se
acaso fizer estudo
Os
tempos são soberanos
A
marcha ingrata dos anos
Passa
liquidando tudo
O
tempo em seu decorrer
Tudo
desfaz e destrói
Depois,
num mesmo poder
Tudo
edifica e constrói
Em
sua eterna pisada
Passando,
deixa pra cada
Só
o que for de razão
Não
obedece a ninguém
Nos
traz o mal e o bem
Só
a meninice não.
Fonte: Palavras ao Plenilúnio
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