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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Causos de Cazuza Firmino, de Boi Velho, Paraíba.

Certa feita ele estava trabalhando para uma mulher chamada Adelaide, em Boi Velho, e ela ordenou que ele selasse um cavalo e fosse pegar uma novilha braba que estava no mato, coisa que ele jamais havia feito na vida.

Pensativo, vestiu os couros, montou no cavalo e saiu. Lá na frente, encontrou Zé de Cazuza. Zé ao vê-lo naqueles trajes estranhou:
- Oxente, que diabo é isso? Pra onde tu vais vestido desse jeito, Cazuza?
- Vou morrer, que eu nunca fui vaqueiro!

            ***********
Cazuza tinha acabado de se separar da mulher, com quem viveu pouquíssimo tempo, e um camarada pra mexer com ele perguntou:
- Cazuza, pra que deixaste uma mulher tão bonita?
Ele respondeu:
- Pra não ser corno como tu!

         ****************
Certa vez ia passando na frente da casa de um vaqueiro da Prata, e tinha uns pedreiros trabalhando na casa. Ele parou e ficou olhando, com dois mamões nas mãos.
Um dos pedreiros perguntou:
- Cazuza, pra que é esses mamões?
- Pra fazer um doce!
- Diz ao menos se Deus quiser!
- Pois ele vai ter que querer, pois já comprei até o açúcar!

Fonte: Cariri e Pajeú: Gente engraçada de lá (Joselito Nunes)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Antonio Vicente contando piada de Biu Doido.
Fonte: Bernardogarapa
BIU DOIDO
Um andarilho das ruas de São José do Egito,Severino Cassiano, conhecido de todos por Biu Doido e que na verdade não era sempre doido, tinha seus momentos de plena lucidez e era nesses momento que Biu se revelava com suas respostas inesperadas e que jamais alguém imaginaria que pudesse sair de sua boca. O poeta popular de São José do Egito, Arlindo Lopes, transformou algumas destas respostas geniais de Biu doido em poesia:
Certa vez Biu se apresentou
Surpreendendo os demais
Usando duas gravatas
Uma na frente e outra atrás
E dizendo achar pouco
Que se ele fosse louco
Usaria outras mais

Egito de Zé Clementino
Já foi falando sorrindo
Biu usou duas gravatas
Pensando ficar mais lindo.
Egito vou lhe dizer:
Fiz isso pra ninguém saber
Se tô chegando ou saindo

HISTÓRIAS DE BIU DOIDO

Dizem que um certo dia uma mulher ia passando em uma rua de São José, e Biu estava subindo em um poste e ela parou e perguntou a Biu:
- Biu! o que você está fazendo trepado no poste? e sem pausa Biu respondeu:
- Vou chupar manga!
E a mulher intrigada falou:
- Mas Biu, isso aí é um poste, não é um pé de manga não! Ligeiramente Biu disse:
- Mas a manga tá no meu bolso.

Mais uma história de Biu Doido contada em poesia pelo poeta popular Arlindo Lopes

Certa vez no Bar elite
A coca cola acabou
Zé do bar saiu atrás
Do Caminhão que passou
Andando mais na carreira
Descendo e subindo ladeira
Mas o carro não achou

Passou no bar Rangéu
E no bar de Tapioca
Na quitanda do Pedro
Na bodega de Roca
Com Biu se encontrou
E ligeiro perguntou:
- Tu visse o Carro de Coca?

Eu já vi carro virado
Carregado de pipoca
Carro batido e vendido
Na feira de troca-troca
Carro novo com defeito
Vi carro de todo jeito
Nunca vi carro de"coca


Certa vez Biu ganhou
Um relógio com defeito
Sem perder um segundo
Botou no braço direito
Desfilou pela cidade
Demonstrando a vaidade
Existente no seu peito

Um gaiato perguntou
A hora para ir pra casa
E biu disse-Tá quebrado
E O sujeiro mandou brasa
Seu relógio me espanta
Sendo assim não adianta
Biu Respondeu -Nem atrasa!

Certa vez em uma farra
Cercado por muita gente
Biu doido fazia rir
Aquele povo presente
Perguntei sem ironia
Plantou muita melancia?
Biu respondeu -Não só a semente

E ainda deu tapinha nas costas e disse: - Se plantar
a melancia ela apodrece!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

JOÃO BATISTA DE SIQUEIRA - CANCÃO

No dia 12 de maio do próximo ano, se vivo fosse, o poeta João Batista de Siqueira, conhecido como: Cancão, estaria completando exatamente cem anos. Justamente no mês das noivas, das novenas. Mês de Maria (a mãe de Jesus, o Sumo Bem), de quem Cancão era supremamente devoto.

Os sertões do Pajeú pernambucano e Cariri paraibano terão a oportunidade de celebrar o aniversário do seu particular Sumo Bem. Pois, como alguém já disse, caso existisse um Deus da poesia naquelas regiões, esse Deus teria nome e seria – Cancão, o Pássaro Poeta.

Não é pra menos, já que o Pajeú pernambucano e o Cariri paraibano contam com a magia do Pajeú, o rio feiticeiro e o garboso desfile da Serra da Borborema, com suas carregadas baterias (contrafortes), e a proteção parcimoniosa dos Deuses da poesia, que ecoa na ressonância das casas e taperas de seus habitantes.

Se a língua portuguesa nasceu do brado das largas discussões do crochê popular. Se a língua portuguesa nasceu da prática oral e não dos textos eruditos da Roma Imperial. Então, podemos tomar o Pajeú e Cariri como autênticos precussores da oralidade poética da nossa língua pátria/sertaneja, da nossa língua mãe, tendo o – Homem Pássaro como o nosso eterno interlocutor poético, comum aos dois gêneros.

João Batista de Siqueira foi um homem simples fora da medida. Um homem comum nos hábitos, no ritual da vida, na sucessão dos dias, no gestual, no vestir. Um homem do campo, um agricultor.

Começou tocando viola, para depois ver que não dava para o “serviço”, largando-a a posteriori para se valer de um bico de pena, de um lápis, de um pedaço de papel de balcão para escrever seus poemas, suas revelações para guardá-las dentro de uma caixa de sapatos.

Homem de choro frouxo, de sentimento exposto a toda prova. Afeito à natureza dos cactos, das macambiras, dos irmãos pássaros, à relva. Daí, fora um pulo para o fortalecimento de suas asas, até alçar voos de maior amplitude, mais rasantes, profundos, longínquos. Rápidos. Na demonstração de um poeta completo, de sentimento assombroso, iluminado.

Ésio Rafael - Poeta, escritor e pesquisador

NINHO ROUBADO

Aquela rolinha do meu sombrião
Sem o seu ninho seu primeiro leito
Já chorou tanto que feriu o peito
Sem saber dos filhos, do lugar que estão.

Percorre às vezes toda a vastidão
Volta de novo a reparar direito
De galho em galho a espreitar com jeito
Procura ainda, mas procura em vão.

Assim a pobre e infeliz rolinha
Levando as horas a gemer sozinha
Eriça as penas, depois as sacode.

Ela não chora porque não tem pranto
Se tivesse pranto choraria tanto
Mas sem ter pranto quer chorar não pode.

Outra excelente apresentação da poetisa Mariana Teles.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A poetisa Mariana Teles, filha do excepcional cantador, Valdir Teles, mostra toda a sua veia poética nesse recital.
Os cantadores Raimundo Caetano e Jonas Bezerra, cantando no mote: Eu estou desconfiado/Que Bin Laden não morreu

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


Contam que o poeta João Paraibano se desentendeu com a sua esposa por motivo de ciúmes dela. Inclusive chegou a agredí-la. Por esse ato impensado o poeta foi preso e na cela improvisou a sua petição ao delegado com os seguintes versos:


Doutor eu sei que errei
Por dois fatos: dama e porre.
Por amor se mata e morre.
Eu nem morri, nem matei,
Apenas prejudiquei
Um ambiente de classe.
Depois de apanhar na face
Bati na flor do meu ramo.
Me prenderam porque amo
Quanto mais se eu odiasse.

Poeta mesmo ofendido
Sabe oferecer afeto.
Faz pena dormir no teto
Da morada de um bandido,
Se humilha, faz pedido
Ninguém escuta a voz sua,
Não vê o sol, nem a lua
Deixar o espaço aceso.
Por que um poeta preso
Com tantos ladrões na rua?

Sei que não sou marginal,
Mas por ciúmes de alguém,
Bebi pra fazer o bem,
Terminei fazendo o mal.
Eu tendo casa, quintal,
Portão, cortina, janela,
Deixei pra dormir na cela
Com a minha cabeça lesa,
Só sabe a cruz quanto pesa
Quem está carregando ela.

Poeta é um passarinho
Que quando está na cadeia
Sua pena fica feia,
Sente saudade do ninho,
Do calor do filhotinho,
Da fonte da imensidade.
Se come deixa a metade
Da ração que o dono bota,
Se canta esquece da nota
Da canção da liberdade.

Doutor, se eu perder meu nome
Não acho mais quem o empreste,
A minha mulher não veste,
Minha filhinha não come
E a minha fama se some
Para nunca mais voltar.
Não querendo lhe comprar,
Mas humildemente peço:
Se puder, rasgue o processo
E deixe o poeta cantar.


Em 1955, em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boémios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão.
Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade, e que também apreciava uma boa seresta.
Ele peticionou em Juízo para que fosse liberado o violão. Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas-Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados  Nordeste.
Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.

Eis a famosa petição:

HABEAS-PINHO

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca:

O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver nem pistola,
É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão,
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade,
Ao crime ele nunca se mistura,
Inexiste entre eles afinidade.

O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas e que povoam a vida
Sufocando suas próprias dores.

O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém seu destino se perpetua,
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Mande soltá-lo pelo Amor da noite,
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito,
É crime, porventura, o infeliz
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, e, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando ali as suas dores?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento,
Juntando esta petição aos autos nós pedimos
e pedimos também DEFERIMENTO.



Emocionante poema do ex-senador paraibano, Ronaldo Cunha Lima. Esses versos foram recitados pelo então senador, no congresso de violeiros de Petrolina, realizado no ano o centenário da cidade.
Após a apresentação do senador, o povo o aplaudiu de pé. Foi um momento inesquecível para mim, que estava lá na plateia naquela ocasião

CONVERSANDO COM MEU PAI

Na quietude d'aquela noite densa,
Reclamei numa saudade a presença
Do meu Pai, que há muito já morreu!...
Sorumbático e só, fiquei na sala,
Sem ouvir de ninguém uma só fala:
Todos dormiam entregues a Morfeu.

Continuei sozinho da vigília,
Contemplando a placidez da mobília,
Num silêncio quase que perfeito;
Quebrado apenas com o gemer da rede,
As pancadas do relógio na parede
E o pulsar do coração dentro do peito.

De repente, coberta com um véu,
Uma nuvem nascia lá do céu,
E na sala onde eu estava, caí...
Era algo de espanto realmente
Dissipa-se a nuvem lentamente
E vai surgindo a imagem do meu pai.

Boa noite, meu filho! E se assusta?
Tenha um pouco de calma, porque custa
Novamente voltar por este trilho:
Eu rompi os umbrais da eternidade
Para, em braços de amor e de saudade,
Conversar com você, querido filho!

Tenho assistido todos os seus passos,
Suas lutas, vitórias e fracassos,
Em ânsias que não posso mais contê-las:
Eu lhe assisto, meu filho, todo dia,
Em suas vitórias choro de alegria
E as lágrimas transformam-se em estrelas.

Tenho visto também seus sofrimentos
Suas angústias, dores e tormentos
E esperanças que foram já frustradas;
Tenho visto, meu filho, da eternidade,
O desencanto de sua mocidade
E o pranto de suas madrugadas.

Compreendo, também, sua tristeza
Ante a ânsia que traz na alma presa
De adejar cortando monte e serra;
Sua ânsia de voar, cantando notas,
Misturar seu vôo ao das gaivotas,
Que beijam os céus sem deixar a terra


Mas, ao lado dos atos de grandeza,
Você me causa, filho, também tristeza,
Em desgosto minh'alma já flutua:
Ontem, porque não estava pronta a ceia,
Pra sua mãe você fez cara feia,
Bateu a porta e foi jantar na rua.

Você não soube, meu filho, e no entanto,
Ela caiu prostrada em um pranto
Soluçando seu íntimo desgosto.
Nunca mais, meu filho, isto faça,
Pois para um filho não há maior desgraça
Que em sua mãe deixar rugas no rosto.

Nunca mais a ofenda, nem de leve!...
O seu amor a ele aos céus eleve
E escute sempre, sempre o que ela diz.
Peça a Deus para durar sua existência
E, se assim fizer de consciência,
Você, na vida, tem que ser feliz.

Conduza-se na vida com altivez,
Fazendo da probidade, da honradez,
Para você o seu forte brasão;
Aprofunde-se, meu filho, no estudo,
Fazendo da justiça o seu escudo,
E amando o povo como ao seu irmão.

Continue no trabalho a que se entrega
Sem temer obstáculo nem refrega,
Pois com a vitória sempre você vai,
E se assim fizer, querido filho,
Sua vida há de ser toda de brilho,
E honrará o nome de seu pai.

E nisso a nuvem comoventemente,
Aos poucos se junta novamente,
Envolvendo meu pai num denso véu;
E num olhar tão meigo e bem sereno,
Dirige para mim um triste aceno
E vai de novo subindo para o céu!

E eu fiquei chorando de saudade,
Alimentando aquela ansiedade,
Sem poder abrandá-la. Que castigo!
Por isso nunca mais dormi. Vivo na ânsia,
Esperando que meu pai rompa a distância,
Pra vir de novo conversar comigo

sábado, 12 de novembro de 2011


(Papai e meu filho, Paulo Victor Amorim Marques, 01 ano.)

No dia 02 de junho de 1988, perdi o meu genitor, João Marques Ferreira, vitimado por um AVC, fato esse que muito me chocou por ter sido ele um grande pai. Próximo ao Dia dos Pais, fiz estes versos inspirado na ausência do meu.

Chegando o mês de agosto
Quando é no Dia dos Pais
Quem já teve e não tem mais
Sente bastante desgosto
O pranto molhando o rosto
Não sente felicidade
Não há mais festividade
Nem alegria nem brilho
Pois quando um pai deixa o filho
A data é só de saudade

Numa data como essa
Muita gente comemora
No lugar em que se mora
Se faz uma linda festa
Na minha casa o que resta
É só silêncio e tristeza
Não tem bebida na mesa
Nem há comemoração
Sem a presença de João
A data perde a beleza.

Tive um desgosto profundo
No dia que pai morreu
Porque pensei que era meu
O melhor pai desse mundo
Deus carregou num segundo
Um avô, pai e esposo
Deixou um filho choroso
A mulher na viuvez
E três netos duma vez
Sem o vovô amoroso.
Lembrança da missa de 30 dias de falecimento do poeta Manoel Filó

Belo soneto de Rogaciano Leite, escrito de improviso numa mesa de bar no Recife, na véspera de Natal do ano de 1953. O tema: "Na noite santa em que nasceu Jesus", foi dado pelo  folclorista Aleixo Leite Filho (Leci).  

Bebo. E, bebendo pela vida afora
Esqueço-me das mágoas torturantes
De hora em hora, de instantes em instantes,
De instantes, em instantes, de hora em hora.

Vejo as visões que já não tenho agora,
Visões e outrora que já vão distante.
São fantasmas de amor extravagantes,
Extravagantes ilusões de outrora.

Bebo. E ninguém me culpe desse vício;
Se eu rolar, ou tombar no precipício,
Conduzirei, sozinho, a minha cruz.

Porém, jamais, embora frente à taça
Me esquecerei do amor, da luz, da graça,
Na noite santa em que nasceu Jesus.


Do livro, “Rogaciano Leite – do Cordel ao Erudito” do egipciense Paulo Cardoso, retiramos o poema-carta, feito de improviso por Rogaciano Leite, no qual o poeta faz jocosa cobrança de seus justos honorários por matérias publicadas em determinado jornal.

“São Paulo, 3 de janeiro
Do ano que vai passando.

Meu amigo Alcides Lopes
Ponha ao lado os envelopes
E vá logo me escutando:
Desejo para o amigo
Um ano novo feliz
Cheio de tanta ventura
Que um verso escrito não diz.

Quero que a vida sorria
Que goze muita saúde
Que ganhe bastante dinheiro
Que Deus na terra o ajude.

Mas, escute, velho amigo,
O que eu lhe quero dizer:
Já não tenho o que fazer
Com “seu” doutor Marroquim,
Pois na sua vida boa,
Nunca se lembra de mim.

Desde janeiro passado
Que o jornal tem publicado
As produções que remeto...
E enquanto isso se publica
O poeta velho aqui fica
Cansado, chupando o dedo...

Vinte produções mandadas
Foram aí publicadas
Até com fotografias...
E enquanto eu gasto em retratos,
Vejo (ai senhores ingratos)
Minhas “gibeiras” vazias.

O Marroquim permanece
(Como quem faz uma prece)
Com a sua alma “polar”
Frio, indiferente, farto,
E eu aqui em meu quarto
Morrendo de trabalhar!

“Seu” Alcies, ouça, acorde,
A quebradeira me morde,
Não posso ficar assim!
Para não levar-me à breca,
Peça a Leitão, o careca
Que ele se lembre e mim.

Diga-lhe que o poeta sofre
Que ele abra esse velho cofre
Onde o dinheiro faz ninho
E mande-me algumas pratas
Pra eu gastar com as mulatas
Ou... com um copo de vinho!

Peça a “nota” ao Marroquim
E sapeque para mim
Um cheque de lá pra cá
A vida aqui é espeto!
E nas farras que eu me meto
Coisinha pouca não dá!
(...)

Meu caro Alcides socorra
Este náufrago infeliz!
Não deixe que aqui eu morra
Só esfregando o nariz!

Receba ainda os meus votos
Para um felicíssimo ano!
Remeta o cheque depressa.
Passe bem. Rogaciano.



Rogaciano Bezerra Leite 
Nasceu no sítio Cacimba Nova, hoje município de Itapetim, a 30 de junho de 1920, filho dos agricultores Manoel Francisco Bezerra e de Maria Rita Siqueira Leite. Iniciou a carreira de poeta-violeiro aos 15 anos de idade, quando desafiou, na cidade paraibana de Patos, o cantador Amaro Bernardino.
Em seguida, Rogaciano Leite foi para o Rio Grande do Norte onde conheceu e iniciou amizade com o renomado poeta recifense Manoel Bandeira. Aos 23 anos de idade, mudou-se para Caruaru, no agreste pernambucano, onde apresentou um programa diário de rádio. De Caruaru, seguiu para Fortaleza (CE), onde se tornou bancário.
Foi idealizador, ao lado do escritor Ariano Suassuna, do I Congresso de Cantadores de Viola, realizado em 1948, no Teatro Santa Isabel, em Recife.
Radicando-se em Fortaleza, ingressou na vida literária, diplomando-se em Filosofia – Letras Clássicas, na Faculdade Santo Tomaz de Aquino, quando também iniciou sua vida de jornalista. Escrevia para o jornal “Gazeta de Notícias”, ao tempo em que fazia apresentações em estações e rádio daquela capital.
Em Recife, foi colaborador assíduo do “Jornal do Commércio” e do “Diário da Noite”. Em São Paulo deu sua contribuição ao jornal “Última Hora”, além de inúmeros outros jornais espalhados por esse Brasil afora.
Entre 1950 e 1955, Rogaciano residiu nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio casou-se com Maria José Ramos Cavalcanti, com quem teve os filhos Rogaciano Filho, Anita Garibaldi, Roberto Lincoln, Helena Roraima, Rosana Cristina e Ricardo Wagner. Em 1968 deixou o Brasil para uma temporada na França e outros países da Europa. Na Rússia deixou gravado em monumento na Praça de Moscou o poema "Os Trabalhadores”.
Alguns dos poemas mais conhecidos de Rogaciano Leite: "Acorda Castro Alves", "Dois de Dezembro", "Poemas escolhidos", "Carne e Alma", "Os Trabalhadores", e "Eulália". Rogaciano faleceu, de enfarte do miocárdio, no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, a 07 de outubro de 1969. Seu corpo foi trasladado para Fortaleza, onde foi sepultado no cemitério São João Batista ao som e treze cantadores repentistas.
Rogaciano Leite, formou-se em jornalismo e chegou a tentar a carreira diplomática. Como repórter, ganhou por três vezes consecutivas o Prêmio Esso de Reportagem, escrevendo sobre a Amazônia. Destacou-se igualmente como letrista de belas canções. Uma delas é a inesquecível “Cabelos Cor de Prata”, que compôs em parceria com Sílvio Caldas. Ele ainda, formou-se em Direito e Letras.
Fontes:
Rogaciano Leite: do Cordel ao Erudito (Paulo Cardoso, Recife, 2001.)





Após a morte do meu querido primo, PEPÉ, num acidente automobilístico, quando vinha com amigos de Tuparetama para São José do Egito; fiz estes versos dedicados a ele e à sua mãe adotiva, Mãe Teta:

Eu hoje estou recebendo
Notícias da minha terra
Chega a saudade me ferra
Deixando marca e doendo
Mãe Teta está me dizendo
O que houve em São José
O povo seguindo a pé
Em um cortejo funéreo
Levando pra o cemitério
O seu filhinho Pepé

São José do Egito chorou tanto
Com a notícia da morte de Pepé
Sua mãe suportou a dor com fé
Pois Jesus tendo pena do seu pranto
Lhe cobriu com o Seu divino manto
E uma parte da dor absorveu
O restante pegou e devolveu
Para cada habitante da cidade
Que ao lembrar de Pepé terá saudade
Na lembrança verá que não morreu

Foi a três de Janeiro o acidente
Lamentável tragédia, triste drama
Pepé voltava de Tuparetama
Feliz da vida, risonho e contente
Tinha bebido exageradamente
E excedeu-se na velocidade
Bateu num poste de eletricidade
Foi um momento de grande alvoroço
Pepé no choque quebrou o pescoço
Perdeu a vida com tão pouca idade

Foi removido para o hospital
Na esperança de sobreviver
Na tentativa veio a falecer
Devido ao choque ter sido fatal
Foi sepultado na terra natal
Porém estava morando em Brasília
Já era dono de um lar com mobília
Mas lhe faltava uma outra meta
Morar de novo junto com Mãe Teta
Mas não na cova da nossa família

No mote “A BRISA PASSA TOCANDO/NO VIOLÃO DA SAUDADE”, mamãe retratou sua mocidade feliz.

Eu era tão vaidosa
Que eu mesma me achava
No lugar que eu passava
Ficava um cheiro de rosa
Só andava bem pintosa
Gostava da vaidade
Hoje caí na idade
Levo a vida reclamando
A brisa passa tocando
No violão da saudade.

Quando eu era moçotinha
No lugar onde eu andava
Todo mundo admirava
Aquela beleza minha
Chamavam Rafaelzinha
Procurando liberdade
Eu não queria amizade
Saía me descartando
A brisa passa tocando
No violão da saudade

Um espelho eu conduzia
Pra olhar minha beleza
Porque eu tinha certeza
Que ela desaparecia
Pensava isso e dizia:
Meu Deus que desigualdade!
Ver sair a mocidade
A velhice lhe espancando
A brisa passa tocando
No violão da saudade

A época que eu mais temia
Já vejo se aproximando
A natureza tomando
Tudo quanto eu possuía
Usando de covardia
Me fazendo crueldade
Não estou mais na metade
Há anos venho notando
A brisa passa tocando
No violão da saudade

Hoje quando boto pó
Fico toda mascarada
A cara toda manchada
Que de mim ninguém tem dó
Vou morrer no caritó
Eis uma realidade
Que moça da minha idade
É no que vive pensando
A brisa passa tocando
            No violão da saudade

(Mamãe e meu filho, João Rafael Coelho Marques, em 2001.)

Quando morávamos em Sobradinho-BA, no ano de 1973, com saudades do seu torrão natal (São José do Egito), de onde saiu contra a vontade, mamãe fez os seguintes versos:

Quem quiser sentir saudade
Faça do jeito que fiz
Deixe seu torrão natal
Sem querer como eu não quis
Saia por necessidade
Que depois você me diz.

Para fazer como eu fiz
Não precisa ter coragem
Depende da precisão
Fazer de tudo embalagem
Se subir num caminhão
Chorar durante a viagem

Bem na hora da partida
Quem assistiu lamentava
Era bem de tardezinha
Uma chuva se formava
Para o lado do nascente
Aí era que eu chorava

Foi de cortar coração
Na hora da despedida
Saí de onde nasci
Pra terra desconhecida
Por contraste a incerteza
De arrumar o pão da vida.

Quanto mais longe eu ficava
Mas a saudade crescia
Olhava tanto pra trás
Que o pescoço me doía
Pra ver se ainda avistava
A casa que eu residia.

Era tão grande o meu pranto
Que Joãozinho se comovia
De vez em quando me olhava
Me ajeitava, me pedia
Lêle não chore tanto
Nós vamos voltar um dia

Os Nonatos e o meu filho Paulo Victor Amorim Marques, foto de 1999, durante cantoria realizada no Sítio Manteiga, na casa de Dona Dalva, em Petrolina-PE.



Da esquerda para a direita: Jailson Bonfim, Luzia e Paulo Robério, Nonato Costa, Elza (esposa de Jailson Bonfim), Aldonso e esposa, e o poeta Edivaldo Amaral; no Sítio Manteiga, distrtito de Rajada, em Petrolina-PE.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O poeta Antonio Marinho, em extraordinária apresentação no município e Cabrobó, durante visita do Presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff as obras da Transposição. 


Esses vídeos foram divulgados em um famoso blog de Petrolina. Naquela época, o leitor Odilon Filho enviou um poema de autoria dele para também ser publicado. O blogueiro postou a matéria conforme texto abaixo:

O poeta Odilon Filho nos envia este belo cordel, demonstrando sua posição contrária à transposição de águas do Rio São Francisco.
Na verdade, o cordel é uma resposta de Odilon a um poeta que subiu no palanque do presidente Lula em Cabrobó, Sertão do São Francisco, por ocasião da visita deste ao município, no mês passado. Boa leitura!

Rio da Vida (Cordel)

Escutei de um poeta
Que o Velho Chico vai cortar,
Terras sertanejas e muita gente ajudar.
Vou lhe replicar em versos sinceros
De um jovem que acredita,
Que antes de transpor, precisa revitalizar o rio da vida!

Rio que mata a sede pode ficar na secura,
Por causa de uma obra obscura e politiqueira
A vida é muito maior que essa porqueira,
Que muitos querem se beneficiar.

Quantos jogaram pedras é um homem que apareceu do nada,
Deu risco sua vida e enfrentou uma batalha.
Levantou a bandeira da vida pra enfrentar essa guerra
Em terra que a seca inferna,
Que a botija que mata a sede.
 (...)
 Leiam meu comentário postado no blog, após ler a publicação denominada erroneamente de cordel:

Esse texto pode ser qualquer coisa, menos Literatura de Cordel. Há, na composição, uma mistura de sextilhas (estrofe de 6 versos) com quadras (estrofe de 4 versos) e quintilha (estrofe de 5 versos), revelando total disparidade em relação a tradiconal composição do cordel; que pode ser em sextilhas ou décimas, sendo a primeira a mais utilizada por todos os renomados cordelistas.

Ademais, há uma verdadeira “babel” em relação à métrica: a medida tradicional dos versos na literatura de cordel é sete sílabas poéticas, seja na sextilha ou na décima. No citado texto apenas o 1º e o 5º versos da primeira estrofe, estão de acordo com a regra, o que também ocorre no 4º verso da terceira estrofe. Daí por diante, se formos escandir todo o texto, identificaremos medidas variadas, com até 17 sílabas poéticas em um único verso, como é o caso de “O/ Se/nhor/ pre/ci/sa/ de/ u/ma/ lu/pa/ pra/ po/der/ en/xer/gar”. Versos como esse, é denominado heterométrico, haja vista apresentarem um grande variação de medida.
Quanto às rimas, agridem os ouvidos dos poetas parnasianos, que cultivavam o preciosismo nas rimas raras e ricas e buscavam a perfeição formal do poema. O texto apresenta uma heterogeneidade nas rimas. Convivem no poema, rimas emparelhadas, misturadas e versos brancos ou livres, descaracterizando-o em relação à literatura de cordel.

Não pretendemos com essa breve análise, desclassificar a criatividade e o dom poético do autor, mas não podemos aceitar que a produção seja classificada como LITERATURA DE CORDEL. Em outras palavras, trata-se de um poema (está composto em estrofes) livre e de versos brancos.

Outrossim, em relação ao poeta que se apresentou em Cabrobó, trata-se de Antonio Marinho do Nascimento, (meu conterrâneo de São José do Egito), filho de Zeto e Bia Marinho, neto de Lourival Batista (O rei dos trocadilhos), bisneto de Antonio Marinho (um dos maiores repentistas nordestino) e sobrinho de Otacílio Batista (autor de “Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor”) e de Dimas Batista (extraordinário repentista, foi advogado e professor universitário no Ceará).